Harry é o tipo de cara que saca as pessoas
numa primeira olhada. E o que percebeu,
quando Nina Albuquerque foi apresentada à
sala pelo diretor, gritava aos quatro ventos:
“Não se aproxime, eu mordo”.
Como todo garoto inteligente, Harry
entendeu a mensagem. Apesar de estar
babando na carteira, Nina não era para o seu
bico. O fato se comprovou semanas depois,
quando a garota, de saco cheio das Kibis,
resolveu dar o troco.
Nesse ponto, Nina, Nathália e Lais já eram
amigas inseparáveis. Lais possuía no celular
uma foto comprometedora do acampamento
passado. Na imagem, Bárbara, Suzana e Ana
Paula se fingiam de bêbadas e as três
levantaram a camiseta até o pescoço, o que
revelou que não usavam nada por baixo.
Com os seios à mostra, as três posaram para
a câmera de Lais.
Nina sorriu ao ver a tal foto.
Com o auxílio do Photoshop, a garota não
precisou de muito tempo para criar o layout.
Gravou a imagem em CD e correu para a
gráfica expressa mais próxima de sua casa.
Cem cartazes ao todo e várias mãos
femininas dispostas a ajudar na empreitada.
Afinal, nenhuma garota do último ano vai
com a cara das Kibis. Elas roubam
namorados, beijam todos os garotos e ainda
destroem a autoestima das meninas sempre
que podem. Alguém precisava fazer alguma
coisa e essa pessoa finalmente havia
aparecido: Nina.
A mulherada do último ano chegou mais
cedo ao colégio naquela manhã nublada.
Nathália havia desligado as câmeras de
segurança e Nina distribuiu os cartazes
autoadesivos. Cem cartazes foram colados
nas paredes do segundo andar do colégio e
vou dizer: era impossível arrancar aquilo
sem detonar com a pintura.
Quando as Kibis chegaram ao Prisma, o tempo fechou.
Os cartazes eram gigantescos e Nina não é
tão má quanto vocês imaginam. Ela poderia
ter usado a foto na íntegra, mas não o fez.
Estrelinhas mínimas cobriam as partes
íntimas das três garotas. A fotografia estava
centralizada num fundo preto, destacando
bem a imagem. Acima, em letras garrafais, o
título gritava: “KIBISCATES”. O termo foi
inventado por Lais e Nina, numa dessas
tardes em que não há nada para se fazer.
— Sua vaca! Foi você, não foi? – Bárbara
gritava, apontando o dedo de unhas douradas
na direção de Nina, enquanto Susana e Ana
Paula choravam, descompensadas.
— Prove. – Nina mantinha um sorriso
desafiador nos lábios.
— Eu sei que foi você! – Bárbara
aproximou-se, pronta para estrangular a
garota.
— Nem pense nisso. – Lais tomou a frente
de Nina. Foi o que bastou para as outras
meninas fazerem o mesmo. – Para chegar
até ela, terá que passar por cima de todas
nós.
Ops. A coisa ficou feia para as Kibis. Treze
garotas contra três? Quem compraria uma
briga dessas?
Os garotos apenas riam, doidos para que o
quebra-pau começasse. Mas não houve nada
além de insultos e xingamentos. E isso
também acabou quando o diretor,
acompanhado de vários professores, entrou
no corredor do segundo andar.
— Se você não me deixar em paz, libero a
foto original para todos os celulares do
colégio, entendeu? – Nina sussurrava para
Bárbara, entredentes.
Bárbara não respondeu. Suas bochechas
estavam vermelhas e não era pelo excesso
de blush.
A passos largos e irritados, o diretor acabou
logo com a balbúrdia. Os professores
interpelaram os estudantes, mas felizmente,
não havia provas contra Nina e ninguém a
dedurou. Nem os garotos tiveram coragem
para tanto.
Após um tempo longo demais, ficou
acordado que os cartazes seriam retirados –
com espátula – por todos os alunos do último
ano e o corredor seria repintado, também por
eles. E assim foi feito, num fim de semana
para lá de divertido. Não para as Kibis,
obviamente.
Bárbara poderia ter chamado os pais, mas
recuou só de pensar na cara do seu velho
tendo que encarar aquela foto. Como ela iria
se explicar? Não, isso seria humilhante
demais. Mas essa história não terminaria
naquele corredor cheio de cartazes
autoadesivos. Oh não.
E Bárbara, com a ajuda de Harry, dará o
troco à altura.
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A cada 10 pessoas que comentam 4 delas dizem, na verdade o que eu realmente não sei o que estou falando, então se entendeu parabéns e obrigada por comentar.
E lembrando foi comprovado cientificamente que comentar emagrece.