HTML

09/11/2013

18°CAP - A APOSTA - NO AVIÃO.






Depois da cena deprimente em que Nina

acerta Harry entre as pernas, de novo, os dois
não voltaram a se cruzar fisicamente no
Aquarium.

Ela o observou à distância e trocaram

olhares durante a noite. Mas algo estranho
aconteceu quando Nina, dependurada no
parapeito da ala VIP, viu duas garotas se
aproximarem de Harry. Ele estava sozinho no
bar.

Gancho e Nathi ainda dançavam no meio

da pista. Lais e Doc estavam em um canto,
agarrando-se no maior dos amassos. Ela
jurou ter visto a língua de seu irmão, mesmo
daquela distância. Eca. Mil vezes eca.

Mas o lance é que Nina, ao se deparar com

a cena em que Harry e as duas garotas
engataram uma conversa animada, fincou os
dentes no lábio, agarrando-se fortemente ao
aço gelado que a separava da pista lá
embaixo. O que estava acontecendo com ela,
afinal?

Foi então que dois garotos da turma de Harry
chegaram e Nina sentiu um estranho alívio.
Por que ela se importava? Por que seu
coração batia de forma descompassada?

Nina fingia estar olhando para outro lugar,

mas definitivamente ela não estava. De
esguelha, a garota acompanhava todos os
movimentos de Harry enquanto o tempo se
arrastava, cansado de correr.

Num determinado momento da noite, Harry a

mirou, descaradamente. Sorriu abertamente
sacando algo do bolso da calça. Era um
celular.

Segundos depois, o iPhone de Nina que

estava sobre a bolsa vibrou, saltitante. Ela o
pescou, deslizando o indicador sobre a tela.

Uma mensagem de texto havia acabado de

chegar. Quando a abriu, precisou segurar o
riso. Uma carinha feliz piscava um dos olhos
para ela, incansavelmente. Nathi tinha toda a
razão sobre Harry: o cara é um sedutor de
primeira.


~~***~~

O aeroporto de Londres já não
comporta, faz muito tempo, o fluxo de
pessoas que por ele passam. O check in está
lotado e os estudantes fazem fila para
despacharem suas bagagens.

Nina, Lais e Nathália despedem-se dos pais,

ouvem sermões e pedidos incessantes para
que tomem cuidado com tudo e com todos.

Quem vive em cidades grandes costuma

temer a própria sombra. E no caso de Nina,
as preocupações dos pais não são nada
infundadas.

As garotas prometem mundos e fundos.

Lais procura, por sobre os ombros de Nina,
algum sinal de Doc. Mas ele não está ali, não
veio se despedir.

— O Doc estava dormindo quando saímos. – Nina esclarece.


— Tudo bem. – Lais morde o lábio,

entristecida. – Não pensei mesmo que ele
fosse aparecer.

— Meu irmão é um cara legal, Lais. Se

vocês engatarem algo sério, juro que ele será
fiel até o fim.

— Bem, foram só uns beijos, nada demais. – Lais tenta se convencer disso, mas o fato é

que a garota está de quatro.

— Não sofra por antecipação. – Nina

conforta a amiga.

— Olha quem fala!


— Faça o que eu digo, mas não faça o que

eu faço. O ditado é válido. – Nina passa o
braço sobre os ombros de Lais e as duas se
juntam a Nathália.

~~***~~

Trinta e quatro estudantes e dois
professores acabam de completar o check in.
O diretor está atento a tudo, enquanto
responde a mesma pergunta feita por quinze
pais diferentes desde que chegou ao
aeroporto.

Quando termina de atender a todos, volta

seu olhar para o encrenqueiro Fabiano, o
Bola. O garoto é mestre em armar confusões
nos locais mais inusitados. Os professores já
estão avisados e o diretor nem imagina do
que ele será capaz em um local isolado como
a Ilha Inamorata. Se eu fosse esse diretor,
teria dado uma de alfândega, revistando a
bagagem do garoto com cachorros,
detectores de explosivos e tudo o mais.
Enfim, o diretor não pensou nisso. Pior para
ele.


Nina caminha, de braços dados com os pais,

até as portas que a levarão ao embarque
doméstico de Londres. Mais beijos e
abraços e quando ela finalmente cruza o
portal, a liberdade é uma promessa
convidativa. Essa é a primeira vez que ela
viaja sem os pais ou o irmão mais velho.

No colégio em que estudava, viagens assim

foram proibidas quando um garoto explodiu o
banheiro de um hotel. Nem posso dizer isso
em voz alta, para não dar ideias ao Bola.

Uma voz metálica surge dos auto falantes,

anunciando que o embarque do voo de
número 711 terá início imediato. Trinta e
quatro estudantes sorriem. Dois professores
tremem nas bases. 


~~***~~

O avião já está no ar há uma hora e meia.
Nina joga Mário no Nintendo 3DS. Lais
quebra a cabeça com o sudoku no celular.
Nathália lê um livro de novecentas e doze
páginas, avançando rapidamente na história.

Aviões são tão claustrofóbicos como latas

de sardinha e o humor de Nina começa a
oscilar. Não suporta ficar parada, é como se
formigas mordessem a sua bunda. Desliga o
vídeo-game e se levanta, doida para esticar o
corpo todo. As amigas nem percebem, de tão
entretidas que estão em seus afazeres.

— Se você se apaixonar por mim, saiba que

não poderei lhe dar filhos. – Harry tem essa
irritante mania de chegar por trás,
sussurrando no cangote.

Nina gira nos calcanhares e seus olhos

esverdeados se encontram com as esmeraldas de Harry. A garota sente um
desconforto no estômago e não é enjoo.

— Não bati tão forte assim. – ela franze os

lábios, levando as mãos à cintura.

— Você não faz ideia da força que tem.


— Se é assim, por que ainda está parado aí

na minha frente? – Nina estufa o peito e
lança seu melhor olhar fuzilante .

— Ops. Já estou indo. – Harry cruza as mãos

à frente do corpo, como jogadores de futebol
fazem ao montar uma barreira.

Nina não vê, mas eu vejo. Alguns bancos

atrás, Bárbara imagina-se com uma granada
em mãos, prestes a tirar o pino e jogar a
bomba em direção à garota. A Kibi Mor rosna
baixo quando Harry passa por ela, sustentando
um sorriso debochado nos lábios. As palavras
de Suzana ecooam em sua mente: “E se o
Harry acabar se apaixonando pela Nina?”. Não,
isso não pode acontecer. Não vai acontecer!

A caneta que Bárbara segura com as duas

mãos se quebra ao meio, espalhando a tinta
entre os dedos. Joga as duas metades no
chão, desistindo de completar o teste
amoroso da revista de fofocas. Suzana e Ana
Paula se entreolham, assustadas. Vem
chumbo grosso por aí.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A cada 10 pessoas que comentam 4 delas dizem, na verdade o que eu realmente não sei o que estou falando, então se entendeu parabéns e obrigada por comentar.
E lembrando foi comprovado cientificamente que comentar emagrece.