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07/11/2013

16°CAP - A APOSTA - UM DIA PARA A VIAGEM DE FORMATURA.

(Balada Aquarium)






Nina está de malas prontas.
Ajeita a bainha de tule do vestido preto e
calça as sapatilhas coloridas com strass.

Nathália e Lais aguardam no andar de baixo,

na companhia de Doc e sua turma
barulhenta.

A galera toda irá na inauguração do

Aquarium, uma boate na Vila Olímpia, em
que um dos sócios é amigo de Doc. Os
convites para a ala VIP foram disputados à
tapa e o irmão de Nina conseguiu dez deles,
na faixa.

A garota borrifa o perfume nos pulsos e

também atrás das orelhas. Dá uma última
olhada no espelho antes de descer para
encontrar as amigas.

Os pais de Nina foram ao cinema e a turma

de Doc está espalhada nos sofás e sobre a
bancada de mármore travertino da cozinha.

Várias latas de cerveja se empilham na pia e

sacos de amendoim e batatas fritas estão
abertos sobre as mesinhas de apoio.

Lais e Doc conversam num canto, próximos

demais. Nina os encara com curiosidade. Já
tinha percebido um clima, mas não faz ideia
do que esteja rolando entre esses dois.

— Pronta? – Nathi dá um pulinho ao ver

Nina. – Uau, Nina, esse vestido é um arraso.

— O seu também. – Nathália está usando

um vestido azul de alça única, na altura dos
joelhos, de um tecido bem estruturado. O
rabo de cavalo foi feito bem alto e algumas
mechas castanhas escapam, emoldurando
seu rosto cheio de sardinhas fofas.

— Todo mundo por aqui? Podemos ir? – Doc

recolhe os sacos de salgadinhos espalhados.

Nina observa Lais que permanece recostada

na parede, no outro canto da sala. A amiga
está deslumbrante num vestido estilo
indiano, com a cintura marcada por um cinto
de camurça. Um imenso colar prateado pende
de seu pescoço e nos pés, chinelos com
miçangas pretas. O cabelo avermelhado, bem
batido na nuca, sustenta duas presilhas
laterais que prendem a franja. Nina nota que
Lais está usando o bracelete de níquel
envelhecido que compraram juntas, na feira
de antiguidades.

— É impressão minha ou a Lais e o Doc

estão…? – Nina se vira para Nathi e não
termina a frase.

— É, eu também percebi um clima. –

Nathália balança a cabeça em concordância.

— Hum. Acha que devemos perguntar?


— Deixe ela nos contar. – Nathi tira um fio

de cabelo do vestido de Nina. –Não ficaria
chateada?

— Por que eu ficaria chateada? – Nina

franze o cenho, confusa.

— Sei lá, é seu irmão e sua amiga. – Nathi

dá de ombros. – Não que isso seja grande
coisa, não é traição nem nada.

— Eu acharia muito legal, de verdade.



~~***~~

O quarteirão do Aquarium está tomado por

carros de todas as marcas e modelos. Com
isso, é óbvio que o trânsito está um caos.

Uma imensa fila se forma do lado de fora da

boate e a maioria das pessoas não faz nem
ideia de que sem um convite, nada feito.

As três amigas caminham juntas, de braços

dados, vencendo os dois quarteirões que
separam o único estacionamento com vagas
da entrada do Aquarium. Lais não toca no
assunto Doc. Nina e Nathi fingem não terem
visto nada.

Doc e sua turma vem logo atrás e como

todo bando de garotos, começam a se bater e
empurrar a caminho da danceteria. Nesse
interim, uma Pajero recheada de meninas
surtadas para ao lado dos garotos. Doc dá
trela e Lais fecha a cara no mesmo instante.
Nina sente as unhas da amiga fincarem em
seu braço com força.

— Ei, não precisa arrancar a minha pele. –

Nina estremece e Lais se sobressalta.

— O quê?


— O que está rolando entre você e meu

irmão? – droga, Nina tinha prometido a si
mesma não perguntar.

— Nada. – Lais olha de esguelha para trás.

Seus olhos azuis ficam opacos quando veem
Doc e sua turma se derretendo para cima das
meninas da Pajero.

— Por sua causa ou por causa dele? – Nathi

se mete no assunto.

— Não está rolando nada, é sério. – Lais

suspira tristemente.

— Se um dia rolar, saiba que dou todo o

apoio. – Nina sente o aperto de Lais afrouxar
de seu braço.

— Obrigada, Nina. Mas é como eu disse:

Não está rolando nada.

Finalmente chegam à entrada da boate e

Doc e os caras se livram das garotas
oferecidas, para alívio de Lais. Pepino saca os                    
convites do bolso e entrega ao segurança. O
engravatado confere a autenticidade dos
mesmos e libera a entrada, carimbando os
pulsos com uma tinta néon.

O Aquarium, como o próprio nome diz, é

um imenso aquário, repleto de plantas
aquáticas e animais marinhos diversificados.

A danceteria é circular e cercada por paredes

de vidro curvas, que tomam toda a extensão
do lugar.

Nina fica boquiaberta quando vê uma

imensa arraia flutuando sobre sua cabeça,
ainda não tinha percebido que o aquário
também se estende por todo o teto da boate.

As garotas seguem Doc por um corredor

largo, no ponto mais alto do Aquarium. É o
único acesso para a ala VIP que não está
congestionado. A outra opção seria pelo meio
da pista de dança que, no momento, está
abarrotada de cabeças saltitantes.

A música techno rola solta em meio aos

efeitos especiais que vem de todos os cantos
imagináveis. Uma névoa colorida sobe pelo
chão, abraçando as pessoas até a cintura.
A ala VIP está bem mais tranquila, com
seus sofás imensos, mesas largas, um bar
privativo e garçons circulando com bandejas
repletas de bebidas coloridas. Nina aproxima-se
do parapeito de aço e dá uma sacada no
lugar. O Aquarium é simplesmente
fenomenal.

— Animada para a viagem de formatura? –

Doc precisa falar alto para se fazer ouvir.

— Acho que será legal. – Nina responde, ao

pé do ouvido do irmão.

— Está finalmente deixando a adolescência

para trás, Nina. É agora que a ralação
começa e a vida adulta vai massacrar você de
todas as formas.

— Ah, obrigada pelo incentivo! – Nina dá

um tapa no ombro de Doc.

— Já sabe o que fazer caso algum

engraçadinho resolva se meter a besta nessa
viagem? – Doc pergunta, vincando a testa.

— Joelhada nas bolas, soco no nariz e… o

que mais mesmo?

— Acerte no pomo de adão.


— Ok, fique tranquilo, ninguém vai se

meter a besta comigo.

— Ei, Nina, vamos para a pista? – Nathália

chama. Nina percebe que Doc e Lais trocam
olhares demorados e uma urgência em
ajudar inflama a garota.

— Vamos, Doc? – Nina convida, deixando a

bolsa sobre um dos sofás.

— Vamos para a pista, galeraaaaa?! – Doc

grita e Nina revira os olhos, tapando os
ouvidos.


~~***~~

Chegar à pista é uma maratona suada,
apertada e acotovelante. Com alguns
empurrões, os amigos de Doc conseguem
abrir espaço para dançar.

O olhar de Nina é atraído para cima a todo

o momento, o colorido do aquário sobre sua
cabeça é inebriante.

Gente bonita e suada pula ao som do DJ.


Nina corre os olhos pela pista, observando

rostos descontraídos e maquiagens
escorrendo. Não é do tipo que curte baladas
como essa, mas adora uma novidade. Ela não
perderia essa inauguração por nada.

Quatro músicas depois e a garganta

queima, ressequida. Voltar à ala VIP está
fora de cogitação. O bar mais próximo fica a
uns seis metros de onde estão. Grita nos
ouvidos de Nathália e Lais, doida por
qualquer coisa líquida. As amigas concordam,
seguindo na frente.

— Onde vão? – Doc pergunta.


— Pegar água. Quer? – ela oferece, por

sobre o ombro.

— Não, valeu. Já sabe, hein… pomo de

adão. – Doc recomenda.

— Pode deixar. – Nina ri e segue para o

bar.

Passar entre pessoas pulantes e bêbadas

não é tarefa das mais fáceis. Nina desvia, tira
o pé do caminho, é empurrada e empurra
também. O lugar está claustrofóbico e a boca
de Nina está tão seca que nem a língua é
capaz de umedecer os lábios.

Uma mão toca em seu ombro e a puxa para

trás.

— Ei, pensei que sereias não existissem. –

um garoto sardento e até bem bonitinho
exclama. Mas a cantada é tão demodê que
Nina dispara a rir.

— Sereias costumam afogar garotos como

você, sabia? – ela rebate.

— Faria isso comigo, sereia? Qual o seu

nome, hein?

— Se eu disser o meu nome, terei que te

matar. – Nina tenta se desvencilhar, mas o
garoto sardento aperta seu braço com força.

– Será que dá para me soltar?


— Pague o pedágio que eu solto. É só um

beijo, você vai gostar.

Quando o garoto sardento aproxima-se

perigosamente, uma mão forte surge em
cena, agarrando Nina pela cintura.

Ok, congelemos o momento para uma

análise mais profunda.

Londres cidade gigantesca e as

chances de encontrar alguém conhecido
numa balada são nulas, correto? Engano seu.

Apesar de Sampa ser uma megalópole, as

baladas são sempre as mesmas, divididas em
bairros, classes sociais e estilos. As chances
de encontrar alguém conhecido numa
inauguração desse porte são imensas. Nem
vou entrar nos méritos do destino em ação,
porque sei lá, tem isso também.
Descongelemos o momento em 3, 2, 1…

— Dá o fora, mané! – Harry empurra o

sardento.

— Não me disse que estava acompanhada,

sereia. – o garoto fecha a cara e solta Nina.

— E não estou! – o tom dela é agressivo,

metralha Harry com um olhar irado.

— Nesse caso, dê o fora você, manezão! –

o sardento vira homem, pega o braço de Nina
e a puxa para si.

O sangue de Harry sobe nas alturas e ele

empurra novamente o sardento, com mais
força dessa vez. Nina nota que Gancho se
aproxima. O sardento quer briga e Harry
parece querer o mesmo. Ela está entre eles e
resolve apaziguar os ânimos.

— Pare com isso, Harry! – Nina precisa gritar

ao pé do ouvido do garoto, o que se mostra
uma péssima ideia. O aroma dele é uma
mistura de mistério e sedução que faz suas
pernas bambearem.

— Dê o fora, eu já falei! – Harry fecha o

punho no colarinho do sardento.

— Ei, ei, ei! – Gancho finalmente chega. –

Vamos deixar disso, beleza? – Gancho é da
turma do “deixa disso”, mas, quando
provocado, é da turma do “vamos matar todo
mundo”. – Leve a Nina daqui, Harry!

— Não vou com você a lugar algum! – Nina

tenta se livrar de Harry, mas o garoto é mais
forte. E da forma como ele a está abraçando
no momento, nem joelhada, nem soco, nem
pomo de adão surtirão efeito.

Nina procura as amigas no meio da muvuca

e as encontra. O bar fica um nível acima e
ambas estão acompanhando o que está
acontecendo na pista de dança, atônitas. Lais
levanta as duas mãos para o teto, não
entendendo nadinha do que está rolando.

— Ande logo, sem reclamar. – Harry passa

Nina à frente, prendendo-a como se fosse um
escudo protetor, obrigando-a a andar em
direção ao bar.

— Me solte, Harry!


— Quietinha, Nina, ou não ganha sorvete.– Harry sussurra em seus ouvidos e ela sente o

hálito de Mentos de frutas do garoto. Mentos
de frutas é golpe baixo.

— Isso não vai ficar assim!


— Já disse, fique quietinha.


— Me larga! – ela grita e cerra os punhos.


— Pronto, sã e salva. – Harry finalmente

afrouxa e Nina gira sobre as sapatilhas,
pronta para socá-lo. Mas algo a detém. Os
olhos dele, tão verdes quando o mar,brilhantes como esmeraldas.

— Eu sei me defender sozinha! – ela

exclama, inflamada de ódio.

— Eu vi. – Harry debocha.


— E aí, galera! – Gancho chega num pulo e

passa o braço sobre ombros de Harry.

— Deu um jeito no sardento? – ele

pergunta, sem desviar os olhos de Nina.

— O cara vai ficar sussa. – Gancho elucida,

soprando a franja para cima.

— Oi, Gancho. – se Nathi fosse uma

geleira, já estaria derretida no chão.

— Oi, Nathi, oi, Lais. – Gancho

cumprimenta.
— Pegaram água? – Nina sustenta o olhar
de Harry com sua famosa expressão “vou matar
você” impressa no rosto.

— Pegamos. – Lais responde. – Vamos

voltar para a pista?

— Fique longe de mim, Harry, eu estou

falando sério. – quando Nina tromba no
ombro dele ao abrir passagem, o garoto
sussurra em seu ouvido:

— Alguém já disse que você fica linda de

preto?

Nina não se dá ao trabalho de responder.

Range os dentes e continua a caminhar, sem
olhar para trás.



Nota da Autora: Que fogo em Nina !! Não sei não se ela vai aguentar o charme do Harry! Coitada ta sofrendo Bullying kkkkkk' E ae meus amores gostaram do capitulo? Qualquer coisa me avisem nos comentários .Beijos X Beijos. 

6 comentários:

A cada 10 pessoas que comentam 4 delas dizem, na verdade o que eu realmente não sei o que estou falando, então se entendeu parabéns e obrigada por comentar.
E lembrando foi comprovado cientificamente que comentar emagrece.